sexta-feira, 24 de julho de 2009

Maldição

em cada antro arde a vela
na terra-carne corre a lâmina
gritos toscos abafados
pobres sombras na caverna

em cada palco brilha o astro
em trevas- sala efêmera arte
falas textos decorados
mãos escuras os governa

em cada trincheira fenece o pobre
bombas mortes registradas
lágrimas, cruzes e lanternas
sinais de festa na caserna

em cada igreja some o homem
no púlpito-livro-prato jazem trevas
círios, santos, faunos, divindades
infindas fontes de paz etena

Profecia

de sorte em sorte
em forma, de bálsamo
em vida, na morte
perdida desdita
de cores malditas
explode em formas, em curvas
em sonhos, em brumas

reflete a esmo
torna e cresce
perde e corre
de chances, delírios, revoltas

do tempo ao centro não foge
retorna de costas
ao contrário do horário
não pode, não força, não fala
só ouve a ordem

Visões do Paraíso

I.
casebres na taba
são palhas de palma
palácios da selva
presente celeste


II.
pescarias egípcias
soldados de Roma
lavouras assírias
a queda de Tróia


III.
pinturas rupestres
no céu da caverna
prenúncio sinistro
do teto Sistino

sexta-feira, 3 de julho de 2009

A Lagarta

come verme a polpa, a fruta, a carne, a força e cresce, e sobe, e desce, engrossa, entumesce. O destrutivo rastro, grotescas formas de um labirinto percurso que corre ao externo, ao sol, aos ares, ao vôo derradeiro, ao sempre, ao nunca, ao astro, ao bico do pássaro.

Diversidade

aperta, refresca
levanta, se espanta
eleva, reforça
fala, se inventa
quantas pessoas no mundo
existem iguais a você?

corrida para o lado
para cima para baixo
reforma de tudo
retorno de novo
quantas fazeres no mundo
existem iguais a você?

contralto, agudo
rerime, confessa
revolta, ao ponto
calmaria, confronto
quantos diferentes no mundo
existem iguais a você?

a cidade, o campo
a bola, o riso
recorre e espera
não teme, se altera
quantos de novo no mundo
existem iguais a você?

aumento, tormento
subida, ao centro
saída, não vemos
masmorra, sem ventos
quantos infernos no paraíso
existem iguais a você?

camada, fechada
derrama de leites
compressa de sangue
conquista, aos berros
quantos haveres no mundo
existem iguais a você?

imprime, na carne
satura, perfura
deforma, inventa
não foge, enfrenta
quantos mundos diferentes
existem iguais a você?

Mapa

no fim desta rua
existe uma loja, e lá
se compra a prazo
se vende fiado
se come barato

do lado
não suba a escada
nem desça apressado
corre o boato
impostos devidos
favores roubados

mas siga direto
à porta por perto
pergunte ao velho
agradeça ao cego

agora na praça
não corra da chuva
se abrigue na fonte
verá a saída

a lua o horizonte
a face do mar
o porto aberto
não há como errar