quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Abismo

do píncaro rochedo
à ciclópica vala escura e fria
desce alto o profundo
numa inerte e estranha via

o olhar demorado
desperta o olho avistado
queria ver parou calado
ficou a ouvir, surdo e pasmo

Moinho

frio automatismo
terminado num gemido
movimento repetido
de mecânico sincronismo

efêmero presente
prazer tão passageiro
estranho ver-olhar
conhecido odiar

Monos

macacos sobre galhos
sobe-e-desce na folhagem
doutras árvores pulam lados
idéia-nuvem verde margem

grave desce grosso tronco
vida alegre, trava mestra
da terra-mãe, presídio fosso
telúria fonte, selênio gozo

Círculo

sobre areias avisto
pegadas minhas
ou andares outros
diviso o longe

esqueço o tempo
cresceu o mato
caiu o fruto

brilhou o sol
fulgiu a lua
surgiu a marca
sumiu de novo

voltou à frente
correu ao fim
alimentou a marcha
criou sentido

perdeu a força
voltou perdido
cruzado e gasto
retorna eterno

do fim ao começo
do céu ao inferno

Poder



subir o pináculo
acelerar o luminal
expandir-se ao infinito
enxergar o infinitesimal

o sonho permite
a teoria explica
a filosofia especula
a religião abençoa

delírio que voa

Arte invasão


quer entrar nas mentes
invadir as salas
exaurir os pratos
sorver hemácias

deseja rodar qual carros
derrubar os postes
reformar os trastes
inocentar os pobres

peixes outros
são eles arte
nadam surdos
por águas turvas

tentam cegos
encontrar o lúmen
seu movimento segue
esquecido ou célebre