segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Mote

O ateu abandona o seu auto-exílio. Os suprimentos estão quase esgotados. A sobrevivência possível é sair da fortaleza inútil e disputar as ruínas do mundo. Não há outra saída.

Ruptura

caída a noite
não vos protege o sol
se libertam seres
fracos monstros d'antes

o anúncio surge
num grito horrendo
do louco enfermo
clamor do inferno

e sangra a boca infecta
do assassino torpe
arde a ferida fundo
se anuncia a morte

mais reza o escravo
inúteis frases
santos óleos densos
não o salvam, fato

e nessa hora
o tubarão mergulha
a coruja voa
e o morcego acorda

o demônio torna
ao seu cristo agora
o seu fim não tarda
há poucos fios na corda

A cidade tranqüila


a cidade tranqüila

se movimenta máquina

se feliz mais rápida

cubículo metálico

cidadão automático


na cidade tranqüila

trocadas vejo placas

distorções sinalizadas

palavras transtornadas

ruas tuas mutiladas


na cidade tranqüila

vazias vejo casas

calados seres habitados

trabalhos seus mal-pagos


a cidade tranqüila

estimula veleidades

torna cego olhares

bitola, trava e pára


na cidade tranqüila

passeiam substâncias prazeres

amores doenças fáceis

baratos torpores caros


na cidade tranqüila

sua visão me atormenta

seu perfeito mecanismo

seu estático dinamismo

na cidade tranqüila

esconde táticas escusas

sinceras mentiras falsas

claros movimentos fantásticos


a felicidade isolada

a complexidade domada

a elevada verdade errada


a cidade tranqüila

me desespera